Ficha - Annia Greyjoy

Como começar uma história sem que ela se torne mais um daqueles relatos chatos que os Meistres vivem a ler e decorar até que seus corpos se degenerem na podridão e inutilidade da morte? Não. Não falarei dos Greyjoy, creio que toda a informação disponível já é tudo de relevância que se pode conhecer. Nem direi sobre meu pai, o grande Harlon Greyjoy, que, após a morte do antigo lorde das ilhas de ferro, havia assumido seu lugar ainda antes de meu nascimento. Não, não tenho interesse nesse passado. Guerras antigas são interessantes de se ver, não de se ouvir relatos em livros.

De qualquer forma, é melhor que me apresente. Primeiramente, meu nome é Annia, da casa Greyjoy, e sou filha mais velha do senhor das ilhas de ferro. Não sou casada, mesmo tendo vinte um anos, e me orgulho disso. Para falar a verdade, casamentos sempre me enojaram. Toda aquela vida no castelo, a mentalidade de viver para procriar e criar novos lordes e ladies. Tudo se parece com o fim. Uma ruina chata ou sem graça que já mais conseguiria aceitar. Sou uma mulher de ferro, Lady Annia, filha do meu pai. Uma grande navegadora, senhora da minha própria vontade, um filho muito mais útil que o bebe chorão do meu irmão de quatorze anos. Nunca me deixaria pertencer a qualquer homem, muito menos, seguir as ordens de um senhor imprestável que mal consegue levantar a maldita bunda na cadeira. Preferia meu punhal, minhas galés, minha espada, minha casa. Apenas a essas eu seria sempre fiel.

Nasci em Pyke, fruto primogênito do casamento de Lorde Harlon Greyjoy, com a filha de um de seus vassalos mais fieis, Sigrid Harlaw. É claro que o desapontamento de meu pai ao ver que eu não tinha um pau entre as pernas e era apenas uma garota inicialmente foi grande. Era um bebe forte e saudável, um perfeito herdeiro, exceto por alguns detalhes, mas acho que isso não importou muito à medida que o tempo passou. Ainda não conseguindo parar de berrar a plenos pulmões, fui batizada nas águas da baia dos homens de ferro em nome do deus afogado.

Meu crescimento foi rápido. Em pouco tempo, já corria pelas pedras, escalando e rastejando por todos os cantos do castelo. Talvez eu o conhecesse melhor que meu próprio pai, devido ao número de passagem “secretas” e buracos de coelhos que encontrava. Também tinha interesse por lâminas e navegação. Apesar de não ter quaisquer irmãos vivos para passar o tempo, nunca me sentia sozinha. Às vezes apenas barganhava algumas aulas com o armeiro de meu pai ou ficava observando as galés partirem e chegarem, de um lado para o outro. O mar sempre me fascinara, desde que me entendia por gente.

Rápida, precisa e obstinada por minhas vontades, mesmo quando meu irmão Greg nasceu, meu pai parecia olhar-me com melhores olhos. O garoto era desajeitado, só tropeçava e pacífico de mais. Já eu, mesmo com treze anos e sendo uma garota, soava como mais impressionante. Foi naquela época também que um dos meus tios surgiu com um convite de expedição para o pirralho. Ele diria que o transformaria em homem, embora duvidasse muito disso. Lorde Greyjoy concordou claro, mas ele tinha uma condição, levar os seus dois filhos. Pular de excitação? Talvez o tivesse feito, se aquilo não soasse ridículo e o outro parecesse tão consternado. Havia mitos sobre mulheres no mar. Aquilo nunca dava certo. Aquilo fora uma recusa. Mas, após uma ordem mais energética, finalmente consegui meu lugar na tripulação.

O cheiro de água salgada. O balanço do barco. Tudo se tornara rotina com o tempo. Até mesmo os saques que vinham depois. Inicialmente, era apenas um passeio. Mas após algumas aulas com o capitão e a constatação do meu tio de que nascera para isso, vieram às viagens de verdade. E até algumas galés a mais, sob meu comando. Não importava se era uma garotinha. Eu era a filha do Lorde de Pyke e, principalmente, uma mulher de Ferro. A tripulação me respeitava. A tripulação era uma segunda família, e ali eu me sentia parte de um todo realmente. Saqueando, navegando, conversando, contando frotas e até fazendo algumas viagens como emissária de meu pai. Ferro. Água. Sal. Lâmina. Barco. Nós caminhávamos em conjunto. E o fizemos até poucos dias atrás, quando eu e Greg voltamos para casa.